Procrastinar é o ato, consciente ou inconsciente, de adiar o cumprimento de uma tarefa que precisa de ser realizada. Segundo Joseph Ferrari, 95% da população mundial já procrastinou alguma vez na vida e 20% são procrastinadores crónicos.
Alguns procrastinadores famosos são: Oscar Wilde (escritor irlandês), Charles Darwin (naturalista e biólogo inglês), Leonardo da Vinci (pintor italiano).
Contudo, ainda existem pessoas que vivem bem sob pressão e até produzem mais nesse estado (procrastinação ativa). Mas, se formos a ver a energia gasta e o desgaste emocional que isso acarreta, acaba por, muitas vezes, não compensar, pelas consequências químicas e morfológicas causadas no cérebro, especificamente no córtex pré-frontal, responsável pelas tomadas de decisão.
A procrastinação ocorre em diferentes contextos ou tarefas, nomeadamente:
- projetos de médio/longo-prazo: “eu deixo para depois”;
- tarefas entediantes;
- tarefas complexas;
- medo de não ser capaz de fazer a tarefa;
- perfecionismo;
- falta de motivação;
- falta de compreensão da importância ou objetivo da tarefa;
- estados emocionais desregulados.
Então, quando não nos identificamos, não temos motivação, não entendemos o contexto ou não sabemos para que vamos usar aquilo, aumentam os fatores sabotadores, que nos fazem adiar constantemente.
A questão é que quem apresenta este comportamento de procrastinação tem uma autocrítica muito elevada, e essa cobrança vai impactar no sentido da pessoa se ver como alguém sem resultados. Isso diminui automaticamente a sua autoestima e disso surge a justificativa de não conseguir aquele resultado que esperaria, que leva a pessoa a continuar a adiar todos os seus projetos.
É ainda importante falar do ciclo da procrastinação e da sua ligação ao conceito da lei da inércia de Newton: “Todo o corpo continua em repouso, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele”. Tendo por base esta lei, podemos perceber que o pontapé de saída para iniciar algum objetivo ou mudança significativa na nossa vida é mais difícil do que manter essa mudança. Esta dificuldade acaba por levar a um adiamento constante e à permanência na zona de conforto. Ou seja, este é um ciclo que se retroalimenta e que se expande para mais áreas da vida, quanto maior for o controlo dele sobre a nossa vida.
Desta forma, o primeiro passo para a mudança consiste na consciencialização dos processos de procrastinação, ou seja, trazemos informação do inconsciente para o consciente e, aí sim, conseguimos observar e programar os passos que nos levarão à mudança.
Assim, torna-se importante perceber que tipo de procrastinador/a podes ser:
- Procrastinador Ativo: pessoas que atrasam as tarefas, não por não conseguir lidar com elas ou com as suas emoções, mas porque trabalham melhor sob pressão e têm resultados mais desejáveis e positivos, em produtividade e sucesso.
- Procrastinador Passivo: pessoas indecisas e com dificuldade de regulação emocional, que geralmente não controlam a tomada de decisão, o que os leva a adiar as tarefas, mesmo depois de se comprometerem com elas. Este adiamento sobrecarrega-os, originando maior ansiedade, stress e inatividade face às tarefas ou compromissos. Constantemente atrasam tarefas importantes. Segundo algumas investigações, este tipo de procrastinador evidencia baixos níveis de satisfação com a vida, baixo bem-estar psicológico, pior uso do tempo e baixa autoeficácia.
- Procrastinador Preocupado: pessoas que possuem um elevado medo de que as situações ocorram de forma inesperada e fora do desejado. Por exemplo: medo de não ter tempo, de não ter recursos, de não conseguir o resultado esperado. Este medo é tão intenso que estas pessoas adiam as tarefas ao máximo possível, para evitar que se concretize o que têm receio que aconteça.
- Procrastinador Planeador: pessoa que planeia, ao mínimo pormenor, tudo o que precisa de ser realizado, cria cronogramas, objetivos, lista de tarefas, entre outros. Contudo, este planeamento é excessivamente rígido ou até mesmo irrealista.
- Procrastinador Ocupado: pessoas que atrasam as tarefas para realizar mil e uma coisas que, apesar de serem necessárias, não são urgentes ou importantes naquele momento. Este tipo de procrastinador, realmente, está sempre a trabalhar, mas adia as tarefas mais importantes por outras menos importantes ou urgentes.
- Procrastinador Distraído: pessoa com dificuldade de atenção, que acaba por desviá-la para coisas mais interessantes (ex.: chamadas, mensagens, e-mails, redes sociais) do que as tarefas que têm de ser feitas.
- Procrastinador Desmotivado: pessoa que se sente cansada, desanimada, sem energia ou vontade de fazer algo.
- Procrastinador Perfeccionista: pessoa idealista que tem medo, mais do que de errar, de que o resultado seja desastroso e imperfeito. Fica paralisada perante a sua idealização e precisa que tudo seja perfeito antes de começar, ter acesso aos melhores recursos, ter as melhores ferramentas, ter o conhecimento máximo sobre o tópico.
De todos os tipos, o mais estudado é o procrastinador perfecionista. E este pode ter dois lados:
- Lado construtivo:
- Procura fazer o melhor e acaba por se superar sempre.
- Lado destrutivo
- Em vez de melhorar o que já está construído, destrói e constrói de novo.
O Perfecionista é tão inseguro que possui uma crença muito forte de não-suficiência, levando a uma eterna insatisfação.
5 sinais do perfecionismo destrutivo:
- Medo constante:
- Pensamento extremista – excelente ou péssimo;
- Paralisação – deixar de enfrentar os desafios com medo de não dar certo;
- Receio da opinião do outro – pautar/guiar a vida de acordo com o que os outros acham;
- Autossabotagem – medo tão grande de errar que, para não ser surpreendido, é a própria pessoa que, inconscientemente, faz com que isso aconteça.
O perfecionismo é visto por muitos como a forma de chegar ao sucesso. Contudo, para a maioria das pessoas é o bloqueio entre a vida real e de sonho. O paradoxo do perfecionismo é que, em vez de lutar para serem melhores, sabendo à partida que haverá imprevistos e desafios pelo caminho, os perfeccionistas lutam para não cometer erros pois são vistos como defeituosos, ou seja, eles não cometeram um erro, eles são o erro.
A falta de alegria é também uma constante, pois os momentos nunca são perfeitos o suficiente.
Quando não controlado, o perfecionismo manifesta-se fisicamente através da ansiedade, depressão, perturbações alimentares, pânico, pensamentos suicidas, entre outros. Além disso, alimenta-se da vergonha de nunca sermos suficientemente bons. Mesmo os sintomas de ansiedade, que sentimos quando achamos que não estamos a ser suficientemente bons, leva-nos a confirmar que afinal não somos assim tão bons e a sentir ainda mais vergonha.
Uma das razões de estarmos sempre a lutar contra as nossas inseguranças é o facto de compararmos os nossos maiores fracassos com os maiores êxitos dos outros. Os perfecionistas olham para o quanto ainda falta para chegar até onde desejam, sem sequer reconhecerem o quanto já progrediram.