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O culto da depressão e da medicação

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O culto da depressão e da medicação

O consumo de ansiolíticos e de antidepressivos nas sociedades modernas tornou-se generalizado.

Desde a geração Prozac (hoje genérico com o nome de fluoxetina), conhecida como a pílula da felicidade, tornou-se moda pensar que o bem-estar psíquico pode ser encontrado através de um fator externo.

Eu compreendo que para a esmagadora maioria das pessoas é mais fácil encontrar uma solução externa a si própria bem como uma justificação para os seus problemas.

É uma questão de economia de recursos: se o problema está fora de mim, eu não tenho que promover nenhuma mudança penosa de atitude nem de comportamento: basta reclamar e acusar alguém e a origem do problema é imediatamente localizada e a responsabilidade para o resolver é imediatamente descartada. Deste modo eu posso ficar à espera que alguém o resolva por mim e reclamar se não o fizer. Nada mais cômodo nem mais prático.

E também é assim que procuramos soluções dos nossos problemas que sejam externas a nós próprios. A título de exemplo, os diabetes (tipo II) e o colesterol são problemas diretamente causados por erros alimentares, mas a maioria dos cidadãos do mundo prefere tomar medicamentos do que promover alterações dos seus hábitos e rituais. É mais fácil.

O mesmo acontece com os transtornos emocionais, tais como a tristeza e a depressão. É muito mais fácil encontrar uma solução em comprimido do que promover alterações significativas nos nossos hábitos de consumo.

A verdade é que todos os seres humanos precisam de afecto e esta sociedade que mercantiliza tudo perdeu a noção dessa necessidade (se é que algum dia a teve).

Vamos ser claros: os problemas emocionais são resultado da combinação da necessidade de afecto e de integração no ambiente que nos rodeia, onde os afectos são escassos. Como a competitividade substitui a cooperação, a integração é muito difícil, sobretudo para quem tem menos para dar.

Sobre a integração há ainda outro fenómeno interessante: tendemos a aceitar melhor as pessoas que são parecidas connosco, que acreditam e valorizam as mesmas coisas; mas a era da comunicação e da abundância tornou a sociedade tão cosmopolita que todos ganhamos liberdade para sermos nós próprios. Recebemos influências multiculturais e seguimos muitas subculturas, impossíveis de disseminar noutros tempos. Ora, isto cristaliza as diferenças entre nós e faz com que tenhamos mais dificuldade de aceitar e de incluir os outros e vice versa. É por essa razão que estamos cada vez mais sozinhos.

Há uma agravante. Com a globalização e pluralidade de comunicação a que todos estamos expostos no dia a dia, temos acesso a um volume de informações muito superior ao que conseguimos processar. Criamos novas rotinas, novos hábitos, novas necessidades a um ritmo impossível de acompanhar de forma consciente. Ainda somos bombardeados com informação publicitária promovida pela uma indústria ávida de escoar os - cada vez maiores - excedentes de produção, que nos “ajudam” a desejar o que não precisamos e que não nos deixa tempo para compreender o que realmente precisamos. Com isto nossa estrutura mental e psíquica torna-se cada vez mais complexa e cada vez mais difícil de compreender.

Se há 2600 anos o autoconhecimento representava um desafio para os filósofos clássicos, hoje em dia exige um esforço sobre-humano. Como a maioria de nós não é capaz de fazer esse esforço, ficamos mergulhados na confusão.

Daí à depressão, é apenas um pequeno passo.

Ainda assim, é bem melhor do que criar (e manter) uma ilusão…