Há por ai muitas fórmulas mágicas de transformação da realidade, que nos levam a crer que somos bem idiotas porque afinal a solução dos nossos problemas está ao dispor de um simples estalar de dedos e de uma simples mudança de comportamento – tipo botão mágico - com a qual podemos começar a ser estupidamente felizes e a alcançar tudo o que desejamos.
4 passos, 7 passos, 9 passos… faz isto e vais ser feliz.
E todos sabemos que não é bem assim. E tudo começa pela própria conceptualização do que é afinal “ser feliz”.
Todos gostaríamos de mudar algo, mas todos receamos que o fruto dessa mudança seja de facto menos bom do que o que gostaríamos de produzir e que nos faça perder o que de positivo existe à partida.
E as fórmulas mágicas parecem mais direcionadas a pessoas sem história, sem passado, sem sentimentos, sem limitações circunstanciais e ambientais, com uma visão muito distorcida do que é a vida e que relacionam a felicidade com a obtenção instantânea de determinado estado ou, pior, de determinado objeto.
A vida seria então um prazer continuo isento de dor e de sofrimento; as aprendizagens limitar-se-iam a um conjunto de regras e de doutrinas que deixariam o ser humano em êxtase vitalício. Acho que já dei para esse peditório.
Há tantos e tantos exemplos de pessoas “bem-sucedidas” que se suicidam. Talvez porque tenham compreendido que ao correr atrás de fórmulas de felicidade obtiveram a satisfação de todas as suas necessidades superficiais (e materiais) e de todas as necessidades que lhes criaram, mas não compreenderam o que afinal parece ser tão óbvio: depois de alcançar um objetivo, há muitos outros objetivos para alcançar; por isso, perseguir cegamente metas ou objectivos, não faz sentido.
As fórmulas mágicas que criaram e alimentaram as mais altas expectativas, eram – afinal – gigantescas máquinas de produzir grandes frustrações.
A vida é um processo continuo de inspiração e de superação que começa pela aceitação de um ponto de partida inicial, criado por uma história individual única e imensamente rica de ensinamentos e de aprendizagens de valor incalculável.
Aqui, “aceitar” não significa “resignar-se”. Significa apenas e somente ser capaz de encarar a realidade tal como ela é, sem que nos cause tanta dor que nos conduza à criação de uma ilusão que seja mais fácil de compreender. Isto porque o nosso inconsciente tem mecanismos internos de ressignificação do que não nos agrada, com o simples objetivo de nos isentar de culpas, o que nos conduz automaticamente a um processo de vitimização. Ser capaz de encarar a realidade tal como ela é, é o ponto de partida para transformações reais, concretas e profundas na nossa forma de estar e de ser. Porque nos permite compreender que escolhas conduziram a determinado estado e, com base nessa observação, permite-nos ter consciência das escolhas que precisamos de fazer para alcançar o estado que gostaríamos de alcançar.
Porque a felicidade não depende do que temos e muito menos do que fazemos: depende de ser capaz alcançar um estado em que nos permitimos ser o que realmente somos.
E nenhuma fórmula mágica te levará a encontrar quem realmente és: a tua história, as tuas vivências, aprendizagens e experiências, as tuas crenças, os ensinamentos dos teus mestres e as tuas relações, as tuas causas e paixões, os teus sentimentos e pensamentos, os teus sonhos e ambições, o teu potencial e as tuas realizações e tanto mais que só de dentro de ti poderás encontrar.
Mas, por favor, não deixes de te procurar, de evoluir e de transformar... naquilo que de facto és.
ama-te | inspira-te | supera-te