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Como perdoar o outro

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Gostava de te falar de algo que ouves em todo o lado: que é necessário - toda a gente sabe que é preciso, mas parece que muito pouca gente sabe como é que se faz - perdoar

Como é que eu perdoo? Como é que é isso do perdão? Como é que eu vou esquecer o que a outra pessoa me fez de errado ou apagar essa parte de mim? Assim, já não vou sentir este sentimento que tenho em relação àquelas pessoas que me fizeram mal. 

Sim, é tudo isso. Isso é muito importante, mas, sem querer fazer aqui um passo-a-passo para poderes perdoar, vou-te falar de algumas coisas que eu considero, e que são consideradas, muito importantes, para tu, de facto, poderes perdoar. Perdoares-te a ti mesmo e perdoar também o outro.  

A primeira coisa de que é preciso teres consciência é que o outro que te fez mal é, ele próprio, vítima de um outro processo. 

Eu tinha uma amiga, que é psicóloga num estabelecimento prisional, que uma vez me disse uma coisa que eu fiquei a pensar, durante bastante tempo: “Emanuel, lá dentro não há culpados, são todos vítimas.”  

Aquilo mexeu comigo, embora tivéssemos ali um debate. Mas, de facto, a verdade é que as pessoas que estão detidas são todas vítimas de processos de socialização falhados.  

A pessoa que errou contigo, que te falhou, que te fez alguma coisa de que não gostaste, porque valorizava coisas diferentes das tuas, ou porque tinha outras necessidades, ou eventualmente até porque, se calhar, tinha algum problema com ela própria ou algum problema para resolver com ela própria, a verdade é que ela te magoou. O que nos diz a PNL, e eu acredito, é que a intenção do ser humano é sempre positiva. Ou seja, quando praticou aquele ato que te fez ficar magoado e que, se calhar, te causou algum dano, a pessoa não estava consciente desse dano que te ia causar. Ela sentiu um impulso para resolver alguma necessidade sua e foi para resolver essa necessidade que atuou de determinada maneira.  

É evidente que as necessidades são questionáveis, sobretudo quando faltam ao respeito ou quando eu, para superar uma determinada necessidade, tenho que passar por cima de alguém, ou tenho que magoar alguém. A verdade é que há pessoas que não têm consciência disso. Então, da perspetiva delas, vão ter razão, sabes? Ou seja, elas vão achar que houve, de facto, motivações para isso, por muito horrível que tenha sido aquilo que tenha praticado contigo.  

Então, perceber isto só é possível através da luz da empatia, da capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Tentar compreender como é que o outro se sente e como é que ele criou determinado quadro de pensamentos e determinado quadro de realidade, de sentimentos e emoções, etc. Portanto, só ao tentar compreender como é que o outro funciona é que podemos perceber como é que ele chega a uma situação em que nos magoa. E isto é essencial para promovermos, então, um perdão.  

Sim, só por esta via do entendimento é que se consegue chegar ao verdadeiro perdão. Evidentemente que isto, às vezes, não é assim tão linear. Às vezes, é um bocadinho mais complexo, até porque envolve muitas emoções que não nos permitem ver, com clareza, qual foi o nosso comportamento e o comportamento do outro. No entanto, quando desvias essas emoções e tens uma visão objetiva, lá está, pela lente da empatia, consegues perceber as motivações de determinada pessoa. Independentemente de serem legítimas ou não, porque sabemos que, de facto, há coisas que são ilegítimas, sobretudo quando passa por magoar outra pessoa, mas houve, de facto, um quadro, uma sucessão de pensamentos, de sentimentos, que levou aquela pessoa a praticar um determinado ato.  

Quando percebes isto, fica mais fácil para ti não gerar um sentimento negativo em relação a essa pessoa, porque esse sentimento em relação a quem te magoou só pode ser raiva, ódio se quiseres ou ira. Só por pensares em determinadas pessoas que te magoaram de determinada forma, já estás a gerar um quadro emocional muito acelerado e, se calhar, muito exacerbado. Percebes que a raiva que nós temos por outras pessoas é uma espécie de veneno que tomamos e ficamos à espera que o outro morra? Porque, basicamente, nós queremos é que o outro expluda, que o outro morra. De alguma forma, que nos sintamos vingados daquilo que o outro nos fez. Por outro lado, alimentamos esse sentimento, essa raiva, esse ódio em nós, e esta raiva cria emoções tão fortes, é um sentimento que cria emoções tão fortes por todo o nosso corpo, que vai deturpar muito a forma como interpretamos a vida e vai ser um verdadeiro peso para nós. Além de que, está documentado e provado, cada vez mais, estas emoções da raiva podem gerar lesões no teu próprio corpo. 

Portanto, basicamente, a necessidade de perdoar vem daí, da necessidade de nos libertarmos da raiva que temos em relação ao outro. Não vou perdoar o outro porque ele merece. Honestamente, por muitos processos de desenvolvimento pessoal que eu tenha passado, às vezes permito-me pôr à frente daquelas pessoas que me magoaram, isso porque quero libertar-me desses maus sentimentos. Porque quero libertar-me destas emoções negativas e, eventualmente, de todos os reflexos que estes sentimentos têm em mim, quer no meu comportamento, quer nas minhas decisões, quer mesmo também no meu próprio corpo. Porque é um peso e é um peso que chega a ser físico, com o qual eu não tenho que lidar. 

Então, perdoar é libertar-me deste peso, dos pesos dos maus sentimentos que tenho em relação a determinadas pessoas.  

Perdoar é possível, pelo entendimento, pela clareza de entendimento e só uma observação muito criteriosa à luz da empatia é que te permite, de facto, perceber o comportamento do outro. Quando percebes este comportamento do outro, consegues de alguma forma libertar-te das emoções negativas que isto te causa e isto só é positivo para ti. 

Então vá! Fica a dica: é muito importante perdoares os outros e também perdoares-te a ti próprio. Faz isso pela empatia, pela compaixão e pela compreensão de que, de facto, andamos todos a aprender a viver. Ainda ninguém descobriu o seu próprio manual de instruções.